segunda-feira, 20 de junho de 2011

Nem perto de ti, mestre...

Olá, pessoa!

Se você, criaturinha do além, acompanha meu bloguinho (qual será o diminutivo de blog??), deve ter notado que eu dei uma "sumidinha" (ou não, depende do seu grau de atenção). Não querendo me justificar, mas já me justificando, eu diria que isso tem tudo a ver com:
a. Meu pobre notebook deu piti. Tive que trocar o HD e isso demorou um pouquinho mais do que o esperado.
b. Eu me mudei (de volta para minha casa, juro) e foi (está) meio difícil reacostumar com a rotina em família.
Enfim, isso não vem ao caso, não é problema seu, você não quer saber, essas coisas.

De qualquer forma, hoje eu fiquei com vontade de mostrar meus dotes de poetisa (AHAHAHAHA, dó dela). Então, para a "alegria geral da galera", eu escolhi um poema (eu nunca lembro a diferença de poema e poesia) que eu escrevi como homenagem a um cara que eu odeio, Vinícius de Moraes. Não, eu não tô nem aí se você gosta dele. Eu acho-o ridículo e ponto final. Já vi muito poeta menos conhecido fazer um trabalho muito melhor sobre suas angústias, medos, desejos, alegrias etc (mas eu poderia salvar algumas poucas exceções do repertório dele, o que não convém agora).


Graças à FUVEST, eu fui obrigada a ler, reler e treler os poemas desse infeliz. Conclusão: eu já estava com raiva de ele "catando a mulherada" e depois ir pedir perdão a Deus, dizendo que a culpa era delas. Meu querido, com todo o não-respeito que eu tenho por você, vai se ferrar. Se você não consegue segurar as suas vontades, não venha pôr a culpa nos outros. Se você era quase um garoto de programa, vai pedir perdão pelos seus pecados, não pelos dos outros.
Enfim, essa repetição chatíssima na obra dele me deu tanta raiva, mas tanta raiva que eu simplesmente peguei o caderno e saí pondo pra fora o que eu achava.
Ah, antes de escrever o poema eu quero dar um aviso: pouco me importa se alguém aí é apaixonado por VdM e quer vir botar moral em mim porque eu reclamo dele, sem escrever um décimo do que ele era capaz. Então, se alguém teve essa ideia, é melhor esquecer que teve.
Então, com vocês:

Fruto do Pecado

Existia a primeira mulher,
Nascida do nada, caminhando para o além.
Existia a primeira cobra,
Nascida do nada, para tentar outro alguém.
Veio a resistência diante da tentação.
Veio a insistência diante da negação.
Estava Eva em seu lugar,
Veio a cobra lhe fazer mal.
No futuro, muitos difamarão àquela,
Dizendo que  o mal pertence a ela.
Mas todos parecem esquecer:
Foi da cobra aquele mal-querer.
À cobra o mal, ao homem o pecado...
Afinal, os céus não caíram sobre a jovem,
Mesmo após sua desobediência.
Então, estava o pecado em quem?
E foi desta forma que se seguiu:
Muito homem no paraíso comendo,
Mas pronto para de boca cheia ir dizendo
"A culpa é da mulher vil".
E foi desta forma que se seguiu:
Muita mulher abusada e maltratada
Por um mal que sequer viu
Após por tal cobra ser tentada.
E assim é:
Nunca houve um só culpado.
Então, meu caro mal-amado,
Pare de dizer que é só nosso o pecado.

É, foi isso aí que eu escrevi.
Aliás, só dois detalhes: não estou tentando santificar mulheres, só estou dizendo que é bem fácil por a culpa nos outros, usar os outros como justificativa plausível para os próprios atos, mas se colocar como autor deles anda mais difícil do que parece; e o outro detalhe é o seguinte, meus caros leitores "ao pé da letra", não estou falando de uma cobra no sentido literal, é uma metáfora, uma analogia.
Agora, pensem bem. Será que eu fui a única a usar a cobra como metáfora para outra coisa? Cuidado com aquilo que leem. Não é o que parece.


Agora, o que eu vou dizer agora é para os atentos que estão se perguntando "Tá, e qual é a do título do post??".
Se você odiou o meu poema e quer se livrar da podridão dele, eu tenho um conselho sincero: leia os poemas do mestre, o gênio Camões. Eu imagino que a maioria odeie o Camões épico, não culpo (embora eu goste bastante desse lado dele), mas leia o Camões lírico. Ele é fantástico e, para aqueles que acham que meu problema com o VdM era ele ser promíscuo, Camões também foi um grande "namorador" em sua época (apesar de ser feio e caolho... alguns de vocês não conseguem conquistar nem com os dois olhos: eis o poder da lábia).
Como eu tenho uma "pontinha" de dúvida de que alguém vá mesmo ir correndo caçar um poema de Camões, eu mesma vou fechar o post com um poema dele que eu acho que continua sendo muito atual, mesmo depois dos séculos passados.
Rufem os tambores e se preparem para:

Aos Desconsertos do Mundo

Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos

Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só para mim,
Anda o mundo concertado.

Aqui eu me despeço. Tchauzinho e sonhe com Camões na noite de hoje.